O conto da sereia




Era uma vez uma sereia que sonhava em conhecer o mundo dos humanos. Certa vez, ela subiu até a superfície e avistou uma embarcação que aproximava-se do local onde ela estava. Com medo, escondeu-se nos rochedos e ficou somente observando o navio. Na tripulação tinha um homem, ele vestia lindas roupas e mostrava ser alguém da realeza.
 Talvez seja um príncipe, pensou a sereia.
Passou a acompanhar o navio a espera de ver o príncipe, admirar o seu rosto belo mais uma vez e quantas outras pudesse. De repente, uma tempestade alcançou o navio. Os tripulantes de tudo faziam para tirar a água que invadia com violência e manter as velas firmes. Por azar – ou não- do príncipe, ele caiu no mar e ninguém viu os seus chamados de socorro. Ninguém, exceto a sereia que o viu desmaiar e afundar.
 Ela o segurou e nadou até encontrar uma praia onde, após ter certeza de que o príncipe respirava, voltou as profundezas do mar para falar com uma bruxa que morava perto do seu povo. Tinha decidido ser uma humana e viver com o príncipe porque estava apaixonada por ele. Ela o amava mais do que tudo.
A bruxa era má, e ao ouvir a história, concordou em trocar a sua cauda de peixe em troca de pernas, mas negou em lhe dar a voz dos humanos. Também lhe entregou uma concha mágica caso ela quisesse voltar ao mar como sereia novamente, tinha apenas que jogar a concha mágica na água e o homem que amava jamais se lembraria dela.
Assim que o príncipe abriu os olhos, encontrou a sereia ao seu lado. Ele se encantou com a beleza dela, e agradeceu por ter salvado sua vida. Em troca poderia viver no seu reino e desfrutaria de todas as riquezas que ele pudesse oferecer. Porém, não entendia seu silencio. Porque ela não falava.
Uma mulher os encontrou na praia. Após ouvir as explicações do príncipe, ela os levou para o forte onde morava. A líder do grupo era uma bela mulher de cabelos negros. Quando o príncipe a viu apaixonou-se imediatamente, percebeu a sereia, e a bela mulher o mesmo por ele. Ela tinha uma linda voz e olhos negros também.
Os tripulantes do navio encontraram o príncipe depois de vasculharem toda a região; ele convidou a bela mulher do forte para ir junto e ser a sua princesa. Ela o aceitou e os três embarcaram no navio. A sereia passou dias vendo os dois conversarem, estarem sempre juntos. Se amarem. O príncipe a tratava como a uma irmã. Gentil e bondoso, mas não a amava da forma como ela o amava.
Uma noite, a sereia pegou a concha para jogar no mar e voltar a sua forma antiga. Olhou o príncipe pela última vez e seguiu à proa do barco. Contudo, antes que jogasse a concha, suas irmãs sereias apareceram. Elas contaram que a bruxa a enganou, se jogasse a concha no mar ela não voltaria a ser uma seria, mas morreria. Contaram que tiveram que oferecer todos os seus cabelos para que a bruxa dissesse a verdade.
A sereia olhou para a concha que tinha em suas mãos, e em seguida para o convés onde repousava o príncipe. Após fazer a sua escolha, fechou os olhos e lançou o objeto mágico no mar. O dia começava a acordar, e o astro Rei Sol, quando viu a cena do sacrifício da sereia, encheu-se de compaixão e a transformou. A sereia não morreu como previra a bruxa má, muito menos voltou para as águas salgadas dos oceanos. Ela ganhou o céu. O sol a transformou numa gaivota com o canto mais lindo que já se vira, e desatou a voar para o seus braços cheio de calor.
O seu canto despertou até a atenção do príncipe que, por alguns instantes, olhou para ela. Somente para ela, como deveria ter sido em seus sonhos.
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Eu vi essa história na tv há muitos anos. Eu era bem pequena, e se me recordo bem foi na TV Cultura. Lembro até que minha irmã chegou a gravar naquelas fitas cassete sabe? Era a história que eu menos gostava, porque eu queria que no final a sereia ficasse com o príncipe. Afinal, ela salvou a vida dele. Mas, depois de todo esse tempo, acho entendi o significado. 
Entendi que a vida é feita de encontros e desencontros. O que importa no fim das contas é você dar o seu melhor, ser alguém melhor todas as vezes que puder, mesmo sabendo que pode não ser o suficiente para outra pessoa. Foi para você. E acredito que o Universo - ou Aquele que Construiu o Universo- saberá te recompensar. Ninguém é propriedade de ninguém. O amor deve ser vivido de forma livre.
Resolvi escrever este conto porque eu tive um sonho mais o menos parecido com isso. Pelo menos o sentimento da sereia fora semelhante ao que senti no sonho.

Boa sorte, minha pequena sereia. Seja feliz nos seus vôos de gaivota...

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