Sobre a pedra...
Era uma vez uma grande pedra que estava na entrada de um
vilarejo. Desde que o mundo é mundo, e desde o nascimento do pequeno povoado, aquela
imensa pedra sempre estivera ali. Muitos viajantes e moradores passavam por ela;
alguns descansavam, outros se escondiam de ladrões, mas ninguém reparava
realmente ou dava a devida importância.
Certo dia,
um rico artista mandou que seus homens retirassem a imensa rocha e a levassem
para o seu estúdio; as pessoas não conseguiram entender a razão de tal intento
do “excêntrico” artista para reparar e perder o seu tempo com uma pedra
qualquer, mas o homem não se importou.
Em seu
estúdio, ele pegou suas ferramentas e começou a bater naquela pedra, retirando
as lascas que saíam ou limpando a poeira em torno. Os dias tornaram-se semanas,
as semanas em meses e tudo o que as pessoas ouviam eram apenas os ruídos das
ferramentas sobre a pedra. Ninguém conseguia descobrir no que o artista
trabalhava.
Até que um dia todos do vilarejo
viram uma linda escultura de pedra sair do estúdio do artista, e ficaram ainda
mais surpresos quando o homem pediu que seus servos a colocassem no mesmo lugar
de onde retirara: na entrada do vilarejo.
- Por que colocá-la de volta, senhor?- questionou um morador-
Não seria melhor em sua galeria? Ou decorando o palácio do rei?
-Talvez sim,
mas nenhum de vocês enxergariam o que eu já via há muito tempo: de que a pedra
bruta e sem serventia escondia uma obra de arte.
***
Não somos uma pedra,
Mas quantas vezes nos sentimos invisíveis ou sem serventia
para o mundo?
Às vezes até para a gente mesmo, nos sentimos tão inúteis não
é mesmo?
Deus é como o artista excêntrico da história, eu penso. Ele
consegue vê uma obra de arte dentro de pedras brutas e sem forma, ou luz dentro
de corações amargurados e sombrios.
Deus olha a alma de suas criaturas, e com suas ferramentas
trabalha meses a fio, ou décadas, ou reencarnações, sem desistir.
Pacientemente, Ele esculpe o nosso espírito com suas ferramentas para tirar as
lascas de ódio, revolta, apego, raiva, controle, insegurança, medo.
Contudo, não somos uma pedra.
Somos feitos de carne e osso, e isso significa que suas
ferramentas nos causam dor, angústia e uma vontade imensa de desistir, de
continuar a ser uma pedra bruta e sem serventia. O caminho fácil é mais tentador
do que o trabalho doloroso.
Todavia, O Criador não desiste de sua criatura e por vezes
contra a vontade da própria obra, Ele trabalha sem cessar, sem desistir. E A Obra
nasce.
E o que antes era invisível, é visto pelos quatro cantos do
planeta. A começar por nossos próprios olhos...
Uma Obra de Beleza, de Luz.
Comentários
Postar um comentário