Ruínas...

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Costumava ser uma casa, um lar sobre as colinas verdes. Mas o tempo passou, e levou com ele os momentos que um dia foram reais, e agora são apenas memórias.
 Memórias de uma família, memórias de alegrias como memórias de horas difíceis. Enquanto passo minhas mãos pelas paredes sujas e desgastadas; o soalho velho, ruído de traças, então eu busco na minha mente as histórias, os rostos dos que ali viviam, e sonhavam.
 O rosto da minha família...
Costumava ser uma casa, mas agora são ruínas, ruínas sobre as colinas verdes.
Costumava ser a minha casa...
 Naqueles anos, eu era moço. Sequer pensava na vida, muito menos na morte. O tempo passou, agora sou velho, e já penso na vida e na morte. O dia em que serei como esta casa: uma lembrança vaga na história de minha vida.
Ainda consigo sentir o cheiro do café quente feito por minha mãe, do som que a cadeira de balanço fazia no soalho quando meu pai sentava para ler o jornal da manhã, do cheiro do fumo que saia de seu cachimbo. Do abraço e do beijo que minha mãe me dava antes de ir para a escola, do seu perfume francês...
Porém, os nazistas vieram naquela mesma época. Homens de vermelho e preto afastando vidas, algumas para os campos, outras para a morte. Nunca pensei que seriam aquelas lembranças simples e cotidianas que me manteriam vivo durante a travessia pela guerra, pelo horror dos campos. Nunca pensei que a beleza do amor estava no dia-dia, nos detalhes e nos gestos, e para vencer o sofrimento, os dias de frio e solidão, era preciso resgatar o amor contido nesses detalhes do passado. E nunca pensei que tudo seriam páginas antigas tão rapidamente.
Mas até a dor tem seu capítulo final, nada escapa a lei do tempo. Antes eu era moço, mas agora sou velho. Um velho contemplando o que um dia fora seu lar, relembrando as velhas lembranças guardadas na memória. Precisei voltar para poder continuar, precisei olhar para trás a fim de descobrir que direção tomar, e resgatar, mesmo na velhice, aquelas lembranças simples e cotidianas que ainda me manterão vivo quando finalmente seguir para além daqui.

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“Eles não se entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável.
A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas.
São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas.”
(Rubem Alves)
P.S. você é um artista.

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