Acasos?
Os dois estão convencidos
de que foi um sentimento súbito que os juntou.
É bela uma certeza como essa,
mas é mais bela a incerteza. Acham que por não se terem conhecido antes
nunca houve nada entre eles.
E o que diriam as ruas, escadas, corredores,
onde há muito podiam se cruzar? Queria perguntar-lhes
se não lembram – na porta giratória talvez
um dia cara a cara?
em meio à multidão um “com licença”?
no telefone a voz “engano”? – mas conheço sua resposta.
Não, não se lembram. Ficariam surpreendidos de saber
que já faz tempo
o acaso brincava com eles.
Não preparado ainda
a transformar-se para eles num destino,
aproximava-os e os afastava,
cortava-lhes o caminho
e, abafando a gargalhada, saltava para o lado.
[...]
E o livro da vida sempre aberto no meio. [Wislawa Szimborska, Nobel de literatura em 1996]
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