O príncipe e eu...(parte 3)

            -Aqui?- perguntei surpresa
            -Sim, e porque não? Não é como se dançássemos pela primeira vez.- disse Tan
            Lembrei de um dos episódios que passamos juntos, acabamos em um vilarejo pobre da Coréia do Sul. Era o dia de um casamento de uma das famílias que nos abrigaram amigavelmente após o incidente da chuva, onde conheci Tan. Acabamos dançando naquele dia, ambos tímidos um com outro.

Espero que toda a saudade oculta pela luz do sol
Possa te revelar o que há em meu coração

No começo, eu não suportava Kim Tan. Achava-o metido, cheio de si, controlador, achava que sabia de tudo sobre tudo, inclusive sobre as pessoas. Tan não morreu de amores por mim também; segundo ele, eu era metida a sabichona, teimosa e arredia. Discordávamos sobre tudo e a cada minuto, não sei como decidimos ficar juntos e chegar a capital, porquê não tomamos caminhos diferentes, destino talvez.
Naquela noite no povoado singelo e acolhedor, dançamos e aqueles minutos dissiparam os primeiros contatos nada amigáveis entre nós dois. Depois sentamos no campo que dava para as plantações de arroz e conversamos, conversamos muito até o dia amanhecer. Ele se abriu comigo, contou-me sua história, a pressão que sofria da família para assumir seu lugar, meio que passei a entender o motivo de seu comportamento; abri meu coração para ele, falei as dificuldades financeiras no Brasil, da hospedaria dos meus pais, da minha paixão pelo mar, de como eu e Jandii nos tornamos amigas.


Não me recordo o momento, mas adormecemos ali mesmo. Acordei com minha cabeça apoiada em seu ombro, a mão dele envolvia minha cintura, Tan dormia em sono profundo. Movi-me alguns centímetros, e Tan me trouxe para mais perto dele, involuntariamente. Olhei para o seu rosto adormecido bem de perto, e pela primeira vez na verdade, olhei com o coração, por assim dizer. Reparei em seus traços orientais, no nariz comprido e esculpido, a boca fina, os olhos puxados, a pele morena levemente bronzeada, e bem cuidada, em seus cabelos negros e rebeldes. Senti um frio na espinha, o coração batendo forte, como ele era bonito... pensei.
Tan abriu os olhos e me encarou, ficamos um olhando para o outro. Até que ele me trouxe para mais perto, para onde nossas bocas se encontraram. Tudo mudou depois, inclusive nós dois. O retorno para casa, antes tão longo e exausto, transformara-se em rápido e especial.
-É verdade. – concordei sorrindo para ele.
Ele veio na minha direção, gentilmente pegou a minha mão e levou aos seus lábios. Nos aproximamos, suas mãos alcançaram minha cintura e nossos rostos se recostaram. Ao longe podíamos escutar a música do salão, as risadas dos ali presentes.
Tan dançava com maestria, conduzia-me pelo pátio levemente. Me deixei levar por seus passos, rodava meu corpo a sua volta sentindo-me leve como uma pluma. Nunca tinha dançado daquela forma, mas nunca tinha ido a um baile como aquele, e nunca estive com alguém que fizeram meu coração pulsar da forma como fazia ao lado de Kim Tan. A brisa leve e suave passava por nós, enquanto desfrutávamos de mais alguns instantes juntos.


O amor é o momento
O dia, o momento em que você surgiu
Preenchendo meus olhos, preenchendo meu coração
E eu continuo pensando em você
O amor é o momento
O dia, o momento em que você me deixou
Não consigo te esquecer, continuo pensando em você


O amor foi apenas um momento
O dia, o momento em que eu a deixei partir
Meu coração parou, o tempo parou
Porém isso continua a machucar
O amor foi apenas um momento
O dia, o memento em que você me deixou
O amor me deixou também, porém continua a machucar
Em seus olhos, em sua mente o amor está

-No que está pensando?- perguntou Kim Tan.
-Como tudo começou, nos dias que passamos juntos. E no dia de hoje, em estar aqui com você, e amanhã quando partir.
Tan estremeceu levemente, porém, nada disse. Apenas me rodou, colocando-me no alto. Aos poucos foi descendo meu corpo, seus olhos negros encararam os meus.

-Agora, eu só consigo pensar em apenas uma coisa, Maria.
Tan me beijou, e eu o beijei de volta. Dois continentes, dois mundos, duas culturas diferentes que naquele momento tornaram-se uma só. Diferenças que se completaram naquele beijo, talvez pela despedida, ou pelo amor. Ou os dois.




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